A noite em que a vingança de Anderson Silva fez o país das chuteiras reverenciar o MMA.
Das redes sociais, a ansiedade pingou incessantemente. Vozes distintas, de pontos diferentes do Brasil, construíram a corrente de apoio em nome da pátria. Uniram forças para empurrar o campeão no rumo da glória. Das ruas, o desejo brotou único e indissolúvel: a vontade de rever o ídolo em ação reuniu o povo em frente da TV. Bares tomados, lares insones, um exército de torcedores de prontidão à espera do golpe derradeiro para vingar o orgulho ferido.
A vitória de Anderson Silva sobre Chael
Sonnen neste sábado, em Las Vegas, ultrapassaria as fronteiras do
octógono. As provocações desferidas pelo norte-americano durante quase
dois anos, os xingamentos disparados à nação brasileira, o desrespeito à
mulher do Spider e o menosprezo à cultura tupiniquim redefiniram o teor
do combate: a luta deixou de ser entre dois atletas. Virou a batalha
pelo orgulho. O duelo pela honra. A guerra contra o mau-caratismo.
Anderson vestiu o bem. Empunhou a humildade. Representou a decência.
Envergou o respeito. Anderson virou Brasil. Sonnen, o resto. E, no
confronto para calar a soberba e a idiotice, a pátria das chuteiras
calçou as luvas, entrou no octógono e armou a guarda. Na noite do
sábado, o país do futebol virou a terra do MMA.
O campeão pareceu nervoso. Lambeu os
lábios. Sentiu o peso sobre os ombros. Nas costas, levou o retrospecto
de 14 vitórias consecutivas no UFC. Nove defesas de títulos. A
invencibilidade à beira da decisão de se aposentar, aos 37 anos. Mais:
carregou a expectativa de uma nação agora acordada para a vida dentro do
ringue. Fracasso significaria recuo das artes marciais mistas.
Decepção, retrocesso. A responsabilidade o dominou no primeiro round.
Silva caiu diante de Sonnen. O norte-americano, no entanto, também
titubeou. Precisava validar o deboche, legitimar a revanche. E se fez
feliz por cinco minutos. Levou o brasileiro ao chão. Dominou. Bateu.
Mas, apertado, perdeu a velocidade e a força dos movimentos. Fim do
round. A sensação do massacre visto em 2010, no UFC 117, espalhou-se no
ar. Doce ilusão.
Anderson Silva despejou o nervosismo no
intervalo. Retornou como mito. Reinventou a luta. A esquiva se impôs.
Ficou invisível para o oponente. Socou. Sonnen sentiu e, na trapalhada
da falta de habilidade, girou no vazio para cair sem acertar Anderson
Silva. O brasileiro o derrubou ao dançar o corpo para baixo. O
adversário brasileiro se apagou. Anderson encaixou uma joelhada. Deu
socos. Sonnen tentou levantar. Mas caiu com um murro e só parou de
apanhar quando o juiz intercedeu. Aos 1m55s do segundo round,
registre-se: nocauteados ao chão ficaram o lutador com a língua superior
ao talento, a mediocridade das palavras desmedidas, a falência da
prática de tentar intimidar o oponente com baixarias, o amadorismo. De
pé, o campeão do respeito, o fruto do esforço, o domínio das artes
marciais mistas. O brasileiro Anderson Silva, campeão dos médios do
Ultimate, invicto há 15 lutas, com dez defesas de cinturão. O maior
atleta do UFC de todos os tempos.
Fora do octógono, um país enlouquecido
pelo MMA. O UFC 148 colheu a semente plantada pelo pioneirismo
brasileiro nas artes marciais mistas décadas atrás. A façanha de
Anderson Silva, do desafio ao sucesso absoluto, serviu de metáfora para
desafogar a pátria com a garganta entalada contra menosprezos. A alegria
ecoou eterna ao fim da luta. Braços erguidos, gritos ininterruptos. Um
retrato de gol, conquista de copa do mundo. As artes marciais mistas
pediram licença ao futebol para, na noite do sábado, transformar o
Brasil no país do MMA. É um caminho sem volta.
Fonte : Blog do diario de Pernambuco